Por Silvana Goellner, pesquisadora, professora e ativista do futebol de mulheres
Os recém concluídos Jogos Olímpicos de Paris alcançaram grande visibilidade midiática tanto nos canais tradicionais de transmissão como nas novas formas de comunicação e informação. Foram dias nos quais o esporte figurou cotidianamente na pauta não apenas destes artefatos como nos currículos escolares, nas reuniões familiares e nos papos de bar.
Por mesclar rasgos de tradição e de espetacularização, este megaevento esportivo colocou em ação diferentes paixões, sentimentos, atitudes, desejos e vontades. Não precisamos de muito esforço para identificar que na sociedade contemporânea, o esporte constitui um espaço social capaz de mobilizar pessoas de diferentes etnias, gêneros, idades, classes sociais, credos religiosos, seja como participantes, seja como espectadores.
Como uma manifestação cultural, o esporte opera no imaginário individual e coletivo quando é representado como promessa de felicidade, ascensão social, marketing pessoal, domínio tecnológico, reconhecimento nacional e afirmação política de determinado país ou ideologia.
Por essas razões, em ano de competição olímpica, vemos tantas imagens e discursos promovendo não apenas o próprio esporte e seus atletas, mas, fundamentalmente, alguns valores que sua prática pode criar e fortalecer, em especial, aqueles voltados para a construção de uma vida mais humana, diversa e inclusiva.
Se, por um lado, o esporte contemporâneo está associado à exibição de corpos tecnologicamente produzidos e treinados, à demonstração de performances que parecem romper com os limites do corpo, reafirmando sua espetacularização e à exibição de marcas e produtos, por outro, com essas práticas articulam-se discursos que exaltam o potencial educativo do esporte dizendo ser esse um espaço de aprendizado para o convívio entre os diferentes, para o exercício da competição sadia, para congraçamento, a solidariedade e o respeito à diversidade.
O esporte é plural e manifesta-se de diferentes maneiras em diferentes culturas e tempos e a essas manifestações se agregam múltiplos valores.
Como lazer e divertimento, como espaço de profissionalização, de prevenção e/ou reabilitação, entre outras alternativas, deve ser observado como um produto criado e recriado constantemente por quem o pratica e usufrui. Assim, ainda que o espetáculo olímpico seja uma de suas maiores manifestações outras podem dele derivar ou mesmo se afastar.
Pensar nessa pluralidade significa reconhecer o potencial pedagógico do esporte, cujos valores são eleitos e vivenciados consoante situações em que acontece.
Para além da ritualização e da consagração de atletas, o esporte é um direito que deveria ser de acesso a quem dele deseja participar. Seu potencial político e pedagógico é potente quando pensamos no empoderamento de grupos e sujeitos, no exercício da sociabilidade e na construção da cidadania.
Portanto, para além de medalhas o que importa é construir espaços e práticas seguras que criem oportunidades para todas as pessoas que queiram usufruir de qualquer uma de suas dimensões.
professora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
atualmente professora visitante na Universidade Federal de Pelotas
Pós-doutora em Desportos (Portugal)
integra o Grupo de Estudos Mulheres do Futebol (GEMF)
pesquisadora e ativista do futebol de mulheres
colunista do Portal Ludopédio