Darcio Ricca | Esporte e Cidadania

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Esporte Inclusivo e Formação Cidadã

Por Roberta Moretti Avery 

Eu fui atleta durante toda minha vida e considero que me tornei a pessoa que sou hoje devido à prática esportiva. Nasci em uma família que praticava esportes e meu mundo foi ali, entre campos, bolas, meninos e meninas pelo mesmo objetivo: se divertir.

Com essa diversão, vieram os aprendizados: aprender a ganhar e a perder, conviver com pessoas diferentes, aprender a seguir ordens para o melhor do time e a desenvolver minha liderança. Tudo aconteceu de forma natural e em um ambiente que eu amava estar.

Acabei me envolvendo na administração de clubes e federações, mas encontrei hoje a minha paixão no esporte para formação de pessoas.

Trabalho hoje com a Confederação Brasileira de Cricket, que tem sede em Poços de Caldas e hubs de desenvolvimento em MG, SP, BA, RJ e DF. Mais de 7.800 crianças participam do esporte que originou o bets, sendo mais de 5.000 na sede oficial.

O programa começou em 2009 com 26 crianças e teve por escolha crescer de forma sustentável e inclusiva. A intenção era de usar um esporte de valores sociais impecáveis para ajudar crianças em situações de vulnerabilidade a se tornarem melhores pessoas.

Apesar da Seleção Brasileira Feminina ser pentacampeã sul-americana, o foco sempre foi em levar educação social através do esporte.

Em um país onde “dar um jeitinho” é lei e os ídolos do futebol nem sempre trazem o melhor exemplo, ensinar o respeito e inclusão de todos através do esporte é um desafio.

Por exemplo, como ensinar uma criança que ela não pode xingar o juiz, mas deve respeitá-lo? Como mostrar que falar sem uso de palavrões e cumprimentar todos quando chegamos é possível? E que naquela aula, todo mundo joga – meninos, meninas, aqueles que são deixados de lado na educação física: porque não importa o jogo, mas sim a mudança social.

E a mudança acontece. São três pontos fundamentais para que isso aconteça de fato: diversão, capacitação dos professores e criação de um caminho onde a criança queira seguir. A criança de interessa porque é divertido, fica porque e sente valorizada e continua porque tem um caminho claro por onde ir.

E apesar de isso ser óbvio para a maioria dos projetos esportivos, a execução desses programas quando falamos de meninas e crianças não atléticas perde espaço. Mas não deveria. Usar os benefícios óbvios do esporte para somente aqueles que estariam no esporte de qualquer forma, é um desperdício de recursos e com certeza não muda a sociedade que está ali. Os excluídos continuam excluídos, as meninas continuam não usando o esporte para melhoria de autoestima e liderança e os professores continuam repetindo os padrões de 1980.

A Cricket Brasil desde o início desafiou o sistema com aulas somente em escolas públicas e para todos os alunos. Oferece também aulas na APAE de Poços de Caldas e na Associação de Deficientes Visuais. Mantém atualmente números de participação feminina em 48%. Criou o Programa Universitário que subsidia participantes do projeto escolar no ensino superior, se tornando professores formados. Quem melhor para inspirar a próxima geração que uma pessoa que melhorou através do projeto?

E o que notamos com esse tipo de estrutura de projeto com esse alcance geográfico?

Mudança natural! Do quadro operacional do Cricket Brasil, 47% são mulheres e fomos o primeiro país a contratar a Seleção Brasileira Feminina antes da masculina do mundo.

Dos 28 participantes do Programa Universitário até o momento, 25 foram as primeiras pessoas a se formaram de toda a família.

A Seleção Masculina, antes somente formada por estrangeiros que carregavam o uniforme verde-amarelo no peito, hoje é levada por meninos da periferia que honram a camisa e o esporte que abriram portas para sustentar seus sonhos e suas famílias.

Com esses pontos em mente, me invisto muito além no meu trabalho em criar oportunidade para aqueles que podem se beneficiar de toda a estrutura do esporte, mas principalmente para aqueles que não são as decisões óbvias para o sistema. Trabalhar com valores na idade de formação de caráter, fortalecimento de liderança e autoestima e lembrar que podemos ser muito mais que aquilo que a sociedade quer de nós.

Se dependesse das decisões óbvias do sistema, eu não estaria aqui.

Onde você estaria?

Roberta Moretti Avery
@moretti_avery / rmoretti@absolutefp.com.br

 Atleta Profissional de Cricket

Coach da Seleção Brasileira Feminina de Desenvolvimento

Tesoureira da Confederação Brasileira de Cricket

Bacharel em Comércio Exterior pela Unisul

Bacharel de Educação Física pela Unopar

Pós-Graduada em Gestão de Eventos Esportivos e Marketing pela Uninter

Cursando Pós Graduação em Gestão de Pessoas: Carreiras, liderança e coaching pela PUC-RS

Certificada em Level 1 e 2 de Coaching do International Cricket Council – ICC

1a Turma do Curso de Formação de Líderes Mulheres do International Cricket Council – ICC

Instagram: moretti_avery

Linkedin: https://www.linkedin.com/in/roberta-moretti-avery/